Olá!
Conforme já tinha
anunciado antes, este ano fui convidado a participar neste evento para tirar umas fotografias e, como ciclo-activista que sou (talvez um pouco distante do participante-tipo), escrever um pouco sobre o assunto.
Acordei cedito e o dia tinha amanhecido nublado, peguei no meu kit, e lá desci até à garagem para pegar na minha BH. Como não moro muito longe, dei um pulo ao viaduto da Av. da Boavista sobre a VCI para ver o panorama... queria ver um cenário épico de biclas no asfalto, mas a imagem que obtive foi apenas esta:
Quando cheguei à rotunda do Castelo do Queijo já estavam filas consideráveis..
..para embarcar nos autocarros, mas eu como convidado infiltrado nas hordas de 'VIP's tinha lugar reservado em frente ao bar de praia "
Lais de Guia" um pouco mais à frente.
Estacionei a minha BH perto do Edifício (muito pouco) Transparente, e lá fui até ao ponto de encontro.. estava-me reservado lugar no autocarro nº2, segui na companhia do pessoal da RTP...
..curiosamente à minha frente ia o jornalista que apresentou a pequena peça sobre o "
Fotógrafo de Bicicletas". Acho que sem boné ele não me reconheceu, ou então porque não disse nenhum sonoro "xic xac" (que deprimente!) 8-)
Quando os autocarros chegaram à VCI, já estava montes de malta de bicla em punho(s) e a apanhar sol (o tempo abriu entretanto e a VCI não tem grandes sombras :\ ), eu como infiltrado nos VIPs ia sair no pelotão da frente, e tinha uma bicicleta reservada com o meu nome e tudo!
Estas biclas são do tipo "One size fits all" ou antes, "One size fits none" de forma que depois de ajustar a altura do selim e confirmar que os travões estavam bem afinados, estava pronto para seguir caminho...
Após mais 40 minutos de espera, onde o coitado do mecânico de serviço..
..ia sendo requisitado para apertar muitos parafusos.
Depois se ser sobrevoado por um helicóptero múltiplas vezes, lá foi dada a partida.
Primeiras impressões: já não estou acostumado a usar pneus
deste género, o que acaba por ser uma escolha estranha para um percurso 100% citadinho e sempre na estrada.
O início do percurso inclui uma descida vertiginosa até à marginal de Gaia, e se a vista até tem piada, o barulho estridente dos calços dos travões nem por isso.
Alguma malta menos experiente começou logo aí a desmontar e a fazer parte do percurso a pé.
Seguimos pela marginal até à ribeira de Gaia, o piso passa a ser paralelo e
começam a ouvir-se os primeiros queixumes: falta de calo no rabiote! ;)
Ao chegar à Ponte de D. Luis, primeira ligeira subida e a banda sonora é a seguinte:
"TRAC TRAC TRAC TRAC TRARAC TRARARAC TRAC TRAC TRAAAAAC TRAC TRAC TRARAAAC"
A que se deve isto? Um misto de 'novatos' a alterar mudanças enquanto pedalam em esforço + fraca qualidade e rigor dos componentes (a minha também fez, mas eu sou apenas um novato disfarçado de blogger :p ). A bicla custou 70 euros... que esperavam? :p
É sempre bonito ver um dos ícones da Invicta invadido por cerca de 6.000 bicicletas...
O percurso lá prosseguiu pela marginal do Porto e com o avançar do grupo, iam-se juntando mirones nos passeios a acenar e mandar comentários mais ou menos brejeiros.
É verdade que não tenho grande experiência em pedalar em grandes grupos, mas na
Massa Critica somos por vezes perto dos 30 ciclistas e raramente há algum tipo de problemas.
Aqui contudo, nem todos os participantes são ciclistas experientes e como o grupo ia a rolar de forma bastante densa, alguns desequilíbrios e travagens inesperadas quase provocaram acidentes... felizmente não presenciei nem participei em nenhum com consequências nefastas...
No topo do pelotão iam batedores da PSP (de bicicleta) e uma espécie de urso com capacete (ninguém quer que um urso de peluche se magoe quando vai de atrelado):
Sem grandes delongas chegamos a Matosinhos, aquele que tinha sido o nosso ponto de partida (de autocarro) e que era agora o de chegada.
Por esta altura ainda estavam pessoas a passar pela ribeira do Porto, tal é a "décalage" entre o ritmo dos participantes.
Acabado que estava o evento, era altura de ver todas as biclas a ser desmontadas ou montadas dentro de automóveis, já eu, rumei até casa a pedalar (mais tarde vim buscar a BH que ainda estava estacionada onde a tinha deixado).
O percurso total foi de 13km, mais uma ida até casa, ou seja, fiz na bicla do Bike Tour uns 18km. Pretendo fazer uma análise mais detalhada desta bicla e propor algumas melhorias para tornar possível uma utilização segura e fiável no dia a dia, mas entretanto e apesar de estar habituado a fazer este tipo de kms, senti-me bem mais cansado do que o costume.
Falta de rendimento da bicla + posição pouco confortável + selim pouco ergonómico são quanto a mim os culpados...
O 'meu' WBT resumo:
este evento é assumidamente um negócio ligado às biclas, e eu não tenho nada contra isso, antes ser ligado a biclas que ligado aos pópos. :p
A minha opinião pessoal é que podia facilmente tornar-se num negócio mais positivo para a causa da mobilidade leve ajudando a quebrar alguns mitos:
-> não ouvi em alguma altura, quer da parte da organização, quer dos seus participantes, falar de questões de mobilidade racional e do uso da bicicleta no dia a dia.
Apesar de ser algo incompreensível para mim, falei com vários participantes 'repetentes' que aparentemente gostam de participar no evento: é a grande volta de bicicleta que fazem anualmente (para depois deixar a bicla a descansar, aka enferrujar, no fundo da garagem). Se aparentemente gostam de bicicletas (assumindo estas serem bicicletas :p ) porque não experimentar um uso mais a sério?
Em tempos já escrevi aqui no blog que achava o percurso algo estranho, mas se pensar bem, até é adequado à participação das diferentes pessoas, com formas físicas muito distintas, mas o que seria realmente interessante era aproveitar a situação para mostrar como é fácil andar de bicla na cidade.
Quase todas as pessoas que abordei não consideram a bicicleta como uma forma válida de locomoção urbana, apenas um veículo de lazer, o que explica o grande mistério do súbito desaparecimento das mesmas logo após o evento.
Antes de terminar, quero deixar aqui expresso o meu agradecimento à organização pelo simpático convite para participar no WBT, e deixo aqui a sugestão para que de futuro a mesma aposte numa maior sensibilização (se a Skoda deixar, ahaha) para os problemas (ou neste caso soluções) da mobilidade leve na cidade, convidando os participantes a, depois do evento, utilizar esta bicicleta no seu dia a dia: quem sabe não pega o 'bichinho'!
Todos teríamos a ganhar com isso, não?
(a triste figura do vosso caro blogger)