quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Ciclovia da Prelada

Também conhecida por Ciclovia do viaduto da Prelada, só foi concluída este ano. Já lá tinha passado há uns tempos, mas ainda não estava acabada :
Como estou a gozar uns dias de férias, achei ser boa altura para lhe 'prestar uma visita' e tirar umas fotografias.
Esta ciclovia é bastante curta, tem apenas 1250 metros (mais coisa menos coisa) e foi pensada de raiz para este novo arruamento que finalmente tirou partido do Viaduto da Prelada, já estava construído há muito tempo (e sem função).

A opção aqui recaiu (uma vez mais) no tipo de ciclovia lúdica em cima do passeio: betuminoso pintado de vermelho, completamente segregado da faixa rodoviária.

Pontos positivos: aparentemente oferece mais segurança a quem lá circula.
Ponto negativos: oferece menos segurança nos pontos de atravessamento e torna o seu percurso mais lento.

Comecei o trajecto vindo da Circunvalação:
como se pode reparar a ciclovia começa com um muro! 8-)
abordei este ciclista para o meu projecto dos Ciclistas Urbanos, mas ele disse que só dá aqui umas voltas quando está de férias...
primeira espécie de atravessamento: aqui dá para observar o tipo de atitude, ciclovia no passeio, logo... atravessamento na passadeira :\
A estrada é uma via contínua, já a ciclovia é 'rendilhada'... assim tudo se torna mais lento!
No segundo atravessamento, dá-se uma inversão do passeio..errr... da ciclovia.
O atravessamento é feito na passadeira dos peões, e temos de carregar no botãozinho para o sinal ficar verde: genial!
Um pouco mais à frente inicia-se a subida para o viaduto da prelada..
..e depois de o descer estamos no final da ciclovia. Para acabar tão bem como começou, acabamos no passeio (desta vez sem um muro a balizar o percurso).
Esta minha análise poderá soar algo critica, e na verdade é.
Compreendo a falta de ciclovias no Porto como uma barreira para que mais pessoas se iniciem a fazer trajectos de bicicleta, mas, o grande problema (na minha modesta opinião), é que se continuarem a construir coisas deste tipo, em vez de preparar as pessoas para enfrentar a estrada, vão perpetuar a sua inaptidão e o medo de partilhar a estrada com o carro; além disso, e ainda que inconscientemente, continuam a 'desenhar' a bicicleta como um veículo de lazer (usar nessa condição é bom, mas ela é um muito mais que isso).
Que não se engane quem pensa que no futuro vai haver uma ciclovia 'em cada esquina'. Isso não é possível, mas cortar algumas artérias ao transito e tornar toda a baixa limitada a 30km/h já seria um bom avanço 'civilacional'. Isso e marcações de pavimento nas artérias de principal acesso à cidade, assim como aquelas que convidam a maior velocidade automóvel (lembro-me assim de repente da Av. Sidónio Pais; 5 de Outubro; Rua da Constituição; Av. da Boavista, Fernão Magalhães, etc).

As ciclovias são um assunto que nunca gera consensos, nem entre ciclistas, nem entre automobilistas, mas gostava de ouvir algumas opiniões sobre o assunto :) Se tiverem paciência, escrevam umas linhas nos comentários ou enviem um email... se houver quantidade suficiente, gostava de os colocar online :)


11 comentários:

Jane & Cia disse...

Ora eu não sou ciclista, nem de lazer nem diário, mas advogo pela sua causa. Se houve cidade que me impressionou foi Amsterdão pelo respeito que há pelos ciclistas e também pelas inúmeras estradas para ciclistas. Quem vem de cidades limitrofes, tem o seu próprio percurso, muitas vezes paralelo às auto estradas, com a sua própria sinalética, e uma vez chegados à cidade estas vias integram-se nas main roads de uma forma, direi, exemplar. Não é raro verem-se famílias inteiras de bicicletas ou pais com carrinhos atrelados a transportarem filhotes pequenos. Seria tão mais fácil seguir bons exemplos do que inventar modas. Aqui na Póvoa de varzim, se bem te recordas a ciclovia tem características bastante semelhantes a essa da prelada...

Sérgio Moura disse...

Joana, eu tenho "mixed feelings" em relação às ciclovias. Sei que quando bem feitas, podem ser muito benéficas para que mais pessoas comecem a pedalar, mas as nossas autarquias continuam a aplicar este modelo em vez de integrar bem a bicla num modelo pensado de cidade e urbanismo.
A aposta continua a ser em ostracizar as bicicletas quase que dando razão aos energúmenos que por vezes abrem o vidro do honda civic de vidros muito fumados e gritam "Vai pro passeio, animal!".
Esta, assim como a da póvoa, não é para mim uma ciclovia.. é um passeio, aliás, na Póvoa já se 'ciclava' no passeio (porque é largo) muito antes de o pintarem de vermelho.
Os bons exemplos estão espalhados pelo mundo, se querem fazer ciclovias, porque não investigar primeiro?
(obg pelo teu comentário!) :)

Miguel Barbot disse...

Mister, eu gosto desta, pelo facto de entrar pela Cidade dentro e ser uma boa solução para quem vem trabalhar.

Quando houverem mais ciclistas os peões arredam para o passeio.

Já a utilizei e fiquei bastante bem impressionado pela rapidez com que me pôs na Circunvalação.

Hilário Amorim disse...

Bem, eu cá acho que uma ciclovia é sempre benéfica para que mais pessoas comecem a pedalar. Pena é que não sejam integradas na cidade. Mas de qualquer maneira, desde que seja extensa, como a das marginais da Póvoa de Varzim, que tem uns bons 5 ou 6 km, uma vez que continua pela Vila, ou a da Foz do Porto, apesar da atribulação/terror da continuação pós-Passeio Alegre, permitem que se efectue um longo percurso de vários km. E isso sim, parece-me o essencial.
Agora fazer uma com apenas 1 km como esta da Prelada, já parece mais uma intervenção artística na chão da cidade, coisa que me parece suscitar uma outra discussão do âmbito da estética.

Sérgio Moura disse...

Miguel, é claro que um novo arruamento é benéfico, mas essa rapidez de que falas ainda seria maior se não fosses obrigado (por lei) a 'brincar aos peões' de bicicleta, ou seja, este tipo de ciclovia introduz obstáculos, lentidão e atravessamentos desnecessários.

Como o arruamento é novo de raiz, ainda acho pior porque não houve qualquer tipo de condicionamento à sua concretização ("fogo",nem rampas para subir e descer os passeios existem no inicio e final da ciclovia...)

Hilário, se houvesse marginal contínua entre Póvoa e Porto ia fazer muitas vezes esse caminho a pedalar...

Abraço e obrigado pelos comentários! :)

Lourenço disse...

Baby steps, Sérgio... baby steps...

Se se podia fazer uma coisa com pés e cabeça logo de início? Sim, podia. Mas não é pratica comum em PT em nada que se construa de raiz - salvo raras excepções - porque raio as mal-amadas ciclovias haviam de ser a excepção?!?
Eu também já estive em várias cidades da Holanda e há uns 50 anos de diferença e que nunca iremos recuperar sem um Apocalipse energético.

anabananasplit disse...

Isso não é uma ciclovia, Sérgio, é um passeio onde se resolveu permitir e obrigar a circulação das bicicletas (há praí disto ao pontapé). Ao mesmo tempo que se reserva para o peão o troço mais estreito e entalado entre carros de um lado e ciclistas do outro (!). E claro, os ciclistas ficam com a parte lisinha e os peões com a parte de calçada. Isso não é bom nem para os ciclistas nem para os peões. Mas para quem vá de carro parece óptimo: excelente piso, prioridade por default sobre peões e ciclistas nos cruzamentos, nenhum tipo de acalmia de tráfego, é sempre a abrir. A única acalmia de tráfego que poderia haver (à parte os eventuais engarrafamentos), os ciclistas na estrada e os peões nos atravessamentos, são remetidos para o passeio e os seus atravessamentos são permitidos só em alguns locais assinalados e muitas vezes controlados por semáforos. O paradigma está todo errado. E não, não devíamos ficar todos contentes com isto, temos que ser mais exigentes e não nos contentarmos com merda. Estamos no séc. XXI, a globalização!, viajar é fácil e barato, há livros escritos, há a internet, há vídeos, textos, imagens, etc, etc. Não há desculpa para fazer coisas destas. E não se esqueçam que com aquele sinal e o seu significado no nosso CE, isto não é opcional.

Ricardo disse...

prefiro ir na estrada, e que venha a multa.

Sérgio Moura disse...

Ora bem, Ana, ficar contente com a mediocridade é mau. Se há dinheiro para se fazer alguma coisa, que se faça bem...


Ricardo: oh yeah! ;)

paulofski disse...

Sendo esta via mesmo ao lado de minha casa, já aqui a havia analisado, dá-me um jeito do caraças. É uma via estruturante para a entrada e saída da cidade, 5 estrelas, que liga a parte exterior à interior da cidade dividida pela VCI. Como é uma via de raiz, se a tivessem construido sem espaço ciclóviário (hãã, gostam), aí sim, seria extremamente criticável. A solução de atravessamento da Rua de Requesende era invitável e a mudança de berma a partir do atravessamento da referida rua tem a sua lógica. Durante o dia o espaço ciclóviário tem uma utilização reduzida. Já à noite infelizmente é mais pedonal do que utilizado pelas biclas. De uma forma geral dou nota positiva, aguardo com expectativa a possibilidade da sua extensão tanto ao longo da Estrada da Circunvalação como no outro extremo atè à Boavista.

Cumps.

Sérgio Moura disse...

Paulo, a Circunvalação é que merecia ter uma ciclo-via.. ia ser (ou irá ser) a nossa auto-estrada das biclas :)
Compreendo o que dizes quando enalteces sobre se terem lembrado das biclas, mas acho que este modelo continua a desvalorizar a bicla como forma de transporte.
É essa a minha principal crítica... não gosto de ser um "bota-abaixo" mas acho importante ir criticando para se reflectir sobre o assunto.. em certos troços acho que a ciclovia da granja foi melhor conseguida ao conseguir integrar os velocípedes na faixa de rodagem...